Projeto: Escola de Camarão

Escola de Camarão

Coordenador: Prof. Pedro Carlos Cunha Martins

Contato: [email protected]

Valor Total Conveniado: R$ 671.000,00

A carcinicultura no Nordeste, especialmente no Ceará, tem se expandido rapidamente, com o estado liderando a produção nacional com 56.600 toneladas em 2021, representando 47,17% do total brasileiro. A atividade, predominantemente conduzida por micro e pequenos produtores, enfrenta desafios sanitários significativos, como a doença da mancha branca. Para melhorar a gestão da saúde dos camarões e aumentar a rentabilidade, foi proposta a criação da Escola de Camarão na UFERSA, que visa oferecer suporte técnico, diagnóstico e treinamento através de tecnologias digitais, beneficiando cerca de 5.000 produtores e profissionais na região.


A carcinicultura na Região Nordeste tem se desenvolvido nos últimos anos de forma acelerada. Um exemplo é o Estado do Ceará que atualmente é o principal produtor de camarão cultivado com uma produção de 56.600 toneladas em 2021, o que representa 47,17% do volume total do Brasil. Essa atividade primária depende muito pouco de obras públicas estruturadoras, está se adaptando às condições dos diferentes ambientes rurais do Nordeste, gerando principalmente micros e pequenos negócios e, com isso, colaborando com o desenvolvimento dessas regiões (CENSO, 2021).

Podemos citar como exemplo o Estado do Ceará onde a carcinicultura (operação/implantação) está presente em 62 municípios, o que corresponde a 33,7% do total de municípios e, embora com algumas dificuldades, teve um crescimento de 271% nos últimos 10 anos. Essa produção em 2021 foi realizada em 1.786 fazendas sustentadas principalmente por 88,2% de micro e pequenos produtores. Essa conjuntura apresentada no Ceará de alguma forma também está presente nos demais Estados da região nordeste do Brasil e, poderá ter seu modelo de sucesso replicado.

A melhoria constante dos processos produtivos da carcinicultura nos últimos anos, com a introdução de novas tecnologias, produziu ganhos significativos, principalmente na produtividade, uma vez que estava baseada em um processo de produção intensiva. Esse processo de intensificação traz muitas vantagens, contudo, por vezes, os problemas sanitários gerados no ambiente de cultivo levam a uma situação de estresse, gerando muitos prejuízos aos produtores. Neste contexto, o aparecimento de doenças como a mancha branca em camarões criados em todo o Estado se torna o mais significativo.

Desde 2003, muitos problemas sanitários apareceram nos sistemas de produção adotados nas unidades produtivas em todo o Brasil. Neste contexto, os últimos anos foram marcados pelo aparecimento de duas doenças de grande importância: a doença da necrose muscular (NIM) e, principalmente, a doença da mancha branca (MB) em camarões cultivados na Região Nordeste. Esse cenário de perda na condição de saúde representa um impacto negativo no desempenho zootécnico dos camarões. Isto gera prejuízos significativos nas criações, resultando na diminuição da rentabilidade e aumento no nível de risco assumido pelo setor produtivo.

Em virtude desse cenário, somente o diagnóstico da ocorrência de doenças já não é suficiente para a melhoria desse desempenho zootécnico e, algumas hipóteses foram construídas buscando associar à saúde dos camarões as condições do ambiente de produção. Portanto, é de vital importância o estudo da ecologia das doenças na carcinicultura. Desta forma, inicialmente é importante a ampliação de todo o conhecimento epidemiológico dos camarões criados nos diferentes municípios produtores nos Estados da região Nordeste. Igualmente, além desse conhecimento que acometem a cadeia produtiva, é vital que os produtores tenham informação de todas as ferramentas que poderão auxiliá-los no processo de gerenciamento do estado de saúde dos camarões que eles criam.

Esse trabalho acadêmico junto ao setor produtivo, principalmente na região Nordeste, vem evoluindo ao longo do tempo. Inicialmente, quando participamos em 1998 da criação do primeiro Centro de Diagnóstico de Enfermidades de Camarão (CEDECAM/LABOMAR/UFC). Depois, em 2010, com a criação do Programa de Saúde nas Fazendas de Camarão (PSF CAMARÃO) na UFRN, iniciamos uma interação direta com os produtores em suas fazendas. Atualmente, a coordenação está implantada na UFERSA. Após sua implantação, o PSF CAMARÃO adotou diversos tipos de metodologia de atuação principalmente nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará, chegando a ter bases físicas implantadas em pontos estratégicos da região leste do Ceará, visando contribuir para o aumento da rentabilidade e diminuição de risco com a perda de saúde dos camarões criados na região.

A inovação tecnológica gerada através do PSF CAMARÃO é uma estratégia para inversão do atual modelo de saúde praticado na região que é centrado na doença. Hoje, o conceito de saúde não se resume apenas à ausência de doenças e sim a vários outros fatores relacionados às condições ecológicas de criação, manejo alimentar, manejo de água, manejo populacional, instalações etc. Com esta abrangência na definição da saúde, podemos perceber que o ciclo doença-cura poderia se reduzir drasticamente ao melhorarmos as condições de vida dos animais, isso porque eles adoeceriam menos.

Nesse contexto, a sustentabilidade do crescimento da carcinicultura é muito dependente do conhecimento transferido para os produtores e demais profissionais que atuam nesse setor produtivo, principalmente em áreas críticas como a gestão da saúde do camarão. Desta forma, é importante ampliar a prática da educação, promoção, prevenção e preservação da saúde dos camarões criados no Estado do Ceará e, demais Estados da região Nordeste.

Contudo, executar essas ações dentro de uma atividade produtiva instalada em uma grande área geográfica é muito desafiante. Somente como exemplo, o Ceará já deve possuir em 2023 cerca de 2.000 fazendas distribuídas em mais de sessenta (60) municípios. Os demais Estados do Nordeste devem possuir alguns milhares de fazendas de camarão distribuídas em dezenas de municípios. Portanto, para cumprir essa missão desafiadora propomos estruturar uma Escola de Camarão, onde o PSFCAMARÃO estará inserido, para que através das diferentes Tecnologias da Informação e Comunicação seja possível vencer os desafios geográficos presenciais através dos recursos modernos digitais e, otimizar a gestão da saúde na criação de camarão nas dezenas de municípios dos Estados do Nordeste do Brasil.

Desta forma, se espera construir um sistema de gestão da saúde do camarão criado no Brasil e, através do processo ativo de aprendizado com os problemas e soluções de saúde do camarão, seja beneficiado cerca de 4.000 produtores de camarão no Brasil e, 1.000 outros profissionais de toda a cadeia produtiva do camarão, no total de 5.000 empreendedores e/ou profissionais. Desta forma, através do processo de ensino-aprendizagem ativo com os problemas e soluções da gestão da saúde na carcinicultura brasileira, serão beneficiados diretamente os alunos das disciplinas de manejo sanitário dos organismos aquáticos e carcinicultura do curso de engenharia de pesca da UFERSA e, demais alunos indiretamente.

Desta forma, o objetivo do projeto é estruturar a Escola de Camarão para auxiliar o carcinicultor nordestino a superar as dificuldades tecnológicas com a gestão da saúde do camarão e, assim, diminuir os prejuízos com as doenças em suas criações. A base de apoio para a realização dos trabalhos será a Escola de Camarão, que é um Núcleo de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação da Universidade Federal do Semiárido (UFERSA) localizado na região leste do Estado do Ceará, no município de Beberibe. A Escola de Camarão está implantada dentro de uma microfazenda de camarão na cidade de Paripueira (Beberibe) inserida no contexto produtivo que representa cerca de 80% das micro e pequenas propriedades nos Estados do Nordeste.

As atividades de diagnóstico (presuntivo e confirmatório) do estado de saúde do camarão serão realizadas com o apoio das Universidades e/ou Instituto Federais parceiros do PSFCAMARÃO e, em sua maioria, no CEDECAM/LABOMAR/UFC, que está localizado em Fortaleza (CE). A Escola de Camarão terá uma Sala de Aula Digital com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação onde serão realizadas as interações digitais com os produtores e, demais membros da cadeia produtiva do camarão. Essas interações digitais serão utilizadas para produção e transferência de conhecimento aos profissionais e empreendedores ligados à carcinicultura. Esse conhecimento será principalmente relacionado à gestão de saúde do camarão. Para a transferência desse conhecimento serão utilizados diferentes sistemas híbridos (remoto e presencial) de tecnologias de informação e comunicação. As informações serão de caráter teórico e prático sobre as diferentes etapas do processo produtivo dos diferentes sistemas de produção com alto desempenho econômico-financeiro principalmente para os micros e pequenos criadores de camarão.

O material bioecológico do camarão e, de seu ambiente de produção, serão coletados junto aos produtores participantes do projeto nos Estados do Nordeste. Inicialmente, será avaliado o estado geral de saúde dos camarões criados pela carcinicultura implantada nessas regiões da área de abrangência do projeto. Essa avaliação será feita com uso de registros de ocorrência de perdas na produção, biopatometrias, análise a fresco, histopatologia, biologia molecular (qPCR), virologia e metagenômica. Os dados levantados nessas avaliações serão tratados estatisticamente e permitirão o conhecimento da distribuição espacial e temporal das principais ocorrências patológicas nas diferentes fazendas participantes. Aliado a esses dados, serão levantadas as diferentes condições ambientais e tecnológicas nas regiões estudadas. Desta forma, será possível conhecer as condições de ocorrências das patologias estudadas.

A metodologia de trabalho junto aos produtores dará ênfase aos relatos dos produtores sobre a real situação de cada cultivo. Desta forma, serão tomados depoimentos dos produtores de cada grupo, onde os mesmos comentarão sobre as características ambientais e tecnológicas de seus projetos e os principais problemas encontrados com relação às principais patologias. Após o conhecimento das principais condições de ocorrência das enfermidades, através de análises de campo, serão desenvolvidos estudos sobre as demais condições epidemiológicas que determinam a ocorrência, os fatores associados à manifestação das enfermidades e de risco nas regiões estudadas. Ao longo de todas as etapas, serão realizadas clínicas tecnológicas mensais com os produtores, webinários trimestrais, produção e transferência de conteúdos educativos diários e/ou semanais, treinamentos,de acordo com a demanda, conversa com o produtor através do Café com Camarão e, demais atividades e/ou eventos na sala de aula digital da Escola de Camarão.

Através do envolvimento e participação de todos os profissionais responsáveis pela produção dos camarões criados em cada região e das informações e conhecimentos construídos, será possível uma construção coletiva dos mecanismos de gerenciamento do estado de saúde dos camarões e o desenvolvimento de estratégias de convivência com as doenças infecciosas ou não infecciosas detectadas nas diferentes fazendas presentes em cada região.

Com isso, se espera os seguintes resultados:

- Formar e aprimorar os recursos humanos envolvidos nos diferentes sistemas de produção da carcinicultura, com as dificuldades tecnológicas relacionadas à gestão de saúde do camarão instaladas nas diferentes regiões produtoras do Nordeste do Brasil.

- Identificar os problemas de saúde prevalentes e as situações de risco mais comuns às quais as criações estão expostas em cada município.

- Elaborar, com a participação dos produtores em cada núcleo, um plano local para o enfrentamento dos problemas de saúde e fatores que colocam em risco a saúde dos animais em cada município.

- Desenvolver ações educativas e intersetoriais visando à solução dos problemas de saúde identificados em cada núcleo produtor.

- Valorizar a relação com as fazendas, para a criação de vínculo de confiança e respeito.

- Definir alguns procedimentos operacionais de gestão epidemiológica nas diferentes fases do ciclo de vida.

- Resolver alguns problemas de saúde de nível básico.

- Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na comunidade para o enfrentamento em conjunto dos problemas identificados.

- Conhecer as condições epidemiológicas e os fatores associados à manifestação das enfermidades no cultivo de camarão marinho criado nos diferentes municípios.

- Pesquisar, junto com os produtores, mecanismos de gerenciamento do estado de saúde dos camarões marinho criados nos diferentes municípios.

- Desenvolver estratégias de convivência com as patologias detectadas no cultivo de camarão marinho criado nos diferentes municípios.

  

EQUIPE

  1. Pedro Carlos Cunha Martins (Coordenador)
  2. Ambrosio Paula Bessa Júnior (Vice-Coordenador)
  3. Victor de Holanda Cabral (Membro)
  4. Ingrid Meneses Dias (Membro)

 

DOCUMENTOS